A balança comercial sergipana sempre é deficitária

Segundo informações do Ministério da Economia, nos dois primeiros meses de 2019, o estado de Sergipe já produziu um déficit de US$ 11.95 milhões em suas operações comerciais com o exterior. Isso representa um saldo 19,7% menor do que o ocorrido no mesmo período do ano passado.

Em todo o ano de 2018, Sergipe apresentou um déficit de US$ 118.3 milhões em suas transações com nações estrangeiras. Promoveu exportações de US$ 74.0 milhões (Free on Board – FOB) – uma queda de 18,6% em relação ao ano anterior – e importou US$ 192.3 milhões (FOB), num aumento anual de 39,5% desse mesmo volume.

Com esse nível de transações exteriores, Sergipe estaria no mesmo patamar de países como Palau, São Tomé e Príncipe, Antígua Barbuda ou Serra Leoa, caso fosse uma nação independente.

Posicionamento residual

O déficit apresentado em 2018 é quase o triplo do existente em 2017 e aproximadamente quatro vezes o experimentado três anos atrás. Com isso se estabelece a reversão da tendência de redução desses resultados negativos observada entre 2013 e 2016.

Nos 11 anos entre 2008 e 2018, a média do déficit anual comercial sergipano ficou em torno de US$ 108.6 milhões. Situando-se em 2013 o pior saldo produzido nessa série – US$ 202.49 milhões negativos – e em 2016, o melhor (US$ -31.49 milhões).

O posicionamento da economia sergipana no contexto das transações externas brasileiras é extremamente residual. Sergipe atende por tão somente 0,03% das exportações e por 0,1% das importações nacionais.

Todos esses números fizeram com que Sergipe fosse, em 2018, o 3º menor exportador e o 6º menor importador do país. Apenas para fins de comparação, Alagoas ocupa a 8ª e 9ª posições em ambas as listas, enquanto que o Rio Grande do Norte é o 6º e 4º colocado respectivamente.

Pautas concentradas

Contudo, ao contrário dessas duas unidades federativas, a pauta de exportações sergipana é fortemente definida por produtos manufaturados. Entre 2008 e 2018, esse fator agregado compreendeu uma média de 94,5% dos produtos vendidos ao exterior.

Esse rol também é muito concentrado. Nada menos do que 54% das exportações sergipanas, em 2018, foram cobertas por suco de laranja congelado, sendo seguido pela exportação de calçados (15%). Em 2017, a bebida respondia por 38% da pauta, cabendo novamente aos calçados o segundo lugar no pódio (30%).

Os principais destinos das vendas sergipanas são os Países Baixos, atendendo 39% do volume total, e a Bélgica (12%). No âmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul), o maior parceiro do estado nordestino é o Paraguai, para onde se dirigem 3,6% das suas exportações. Essas três nações injetaram na economia sergipana um total aproximado de US$ 40 milhões FOB.

Contudo, ganha relevância o desempenho das exportações para a Turquia (6,2% do total) que, por conta de um incremento de 156% em seu volume de transações, em relação a 2017, transferiu para Sergipe algo em torno de US$ 4.6 milhões FOB.

Para o ano de 2018, a pauta de importações, que detém um perfil mais desconcentrado e também é dominada por bens manufaturados (82,2%), os primeiros lugares couberam às aquisições de trigo em grãos, que abarcaram 15% desse montante, às de adubos e fertilizantes, com 14% de participação, e às de coque de petróleo, que compreenderam 7,8% desse quantum.

Em 2017, esses mesmos itens também lideraram as importações sergipanas, todavia, seus coeficientes de participação ficaram em 10%, 16% e 8,5%, respectivamente. Tais modificações ocorreram dado que as importações de adubos e fertilizantes e de coque de petróleo cresceram menos do que o total de aquisições e as de trigo, que quase dobraram em 2018.

Também apresentando menor nível de concentração de volume, os maiores fornecedores internacionais de Sergipe, nesse último ano, foram os Estados Unidos (20% do total), a Argentina (15%), o Marrocos (14%) e a China (9,3%).

De todo modo, chama atenção o fato de que dois dos maiores itens da lista importação sergipana – adubos e fertilizantes e coque de petróleo – têm como matéria-prima insumos que são largamente produzidos no próprio estado.

Sergipe é o sexto maior produtor de petróleo do país e possui a maior reserva de potássio do hemisfério sul, bem como possui um fábrica de fertilizantes nitrogenados em uma situação de hibernação. Logo, se torna estranho como essa unidade federativa necessita importar tais produtos na escala que o faz.

Termos de troca

Os números do comércio exterior sergipano apontam para o fato de que os seus termos de troca , uma medida que relaciona o valor das importações como uma proporção do valor das exportações, se deterioram de 2017 para 2018.

Naquele primeiro ano, o valor unitário da tonelada exportada era US$ 2,414.40 FOB, enquanto a mesma medida para a tonelada importada estava em US$ 318.73 FOB, ou seja, uma relação de 13,2% entre esses valores.

Já em 2018, a tonelada exportada detinha um valor médio de US$ 1,678.71 FOB, ao passo em que a tonelada importada se movera para US$ 394.14 FOB. O que vai colocar o valor médio por toneladas das importações em 23,5% do valor médio por toneladas das exportações.

Isso ocorreu porque os valores unitários da tonelada nas exportações sergipanas – seja de produtos básicos, de manufaturados ou de semimanifaturados – caíram, ao passo em que nas importações aumentaram em todas essas três categorias.

Mesmo assim, é possível argumentar que Sergipe possui alguma vantagem em seus termos de troca no âmbito do comércio internacional, dado o diferencial existente entre o preço da tonelada por ele exportada e o da tonelada por ele contraída. O que permite antever no comércio exterior um caminho de desenvolvimento para o estado.

Problemas de escala

Muito embora o déficit externo sergipano seja pequeno – algo em torno de 1,2% do seu produto – ele é sintoma de um problema maior: a baixa dinamicidade da economia do estado, que o mantém às margens do comércio internacional.

E essa deficiência se mostra quando da construção dessas perdas sob dois aspectos: no primeiro, o volume dos bens comercializáveis não é grande o suficiente para financiar os níveis de importação e, no segundo, a pauta de aquisições é composta por itens que, por algum motivo, poderiam, mas não são localmente produzidos.

A solução, que não aparenta ser fácil, poderia advir por meio da construção de uma opção pelo comércio exterior, já que os bens exportados por Sergipe aparentam possuir algum grau de agregação de valor, com uma complementação de medidas de substituição de importações.

Logo, como saída para alguns dos problemas econômicos que o estado vem enfrentando no decorrer desta década, um redirecionamento da estrutura produtiva de Sergipe para o Comércio Exterior não é uma possibilidade que se venha a descartar.

 

Fábio Salviano, sociólogo

Emerson Sousa, economista