[dropcap]D[/dropcap]ia desses eu fui a um daqueles maravilhosos passeios pelo Riomorrendo São Francisco, lá pelas bandas de Brejo Grande. Fui ver a foz onde, literalmente, ironicamente o rio morre. É lindo e alegre o lugar. Paradoxalmente, feio é ver a vazão cada vez mais fraca do querido e Velho Chico. Bem, mas essa é uma outra história.

Sol, água boa, misto de mar e fim de mundo, feira na beira do rio, selfies, caipiras, caipirinhas e caipiroscas, além de água de coco on the rocks, mais pilombeta, farofa e limão (para a azia). Uma luxúria comportada…mas tão barata…catamarã rasgando a água e o vento batendo no rosto (será que um dia Eike Batista aproveitou um passeio desses?).

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Findado o passeio, retornando ao cais quase inexistente, fomos almoçar no restaurante à beira do rio. É um privilégio desfrutar dessas idiossincrasias sergipanas, a preço baixo, hospitalidade simplistamente deleitosa e desbravamento de terras que nós, nascidos e criados na Terra de Serigy, nunca nem imaginamos que existam. Isso reflete – e muito! – o descompromisso que temos em valorizar o que é nosso (lá vou eu fugindo do assunto central desta crônica aguda).

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Anarriê… Cardápio variado, muitas saladas, frutos do mar, aves…um picolé de sobremesa. Muito bom…perdi até a vontade de lembrar…do quê, mesmo? Bem, olho para a saída do restaurante. Vejo um menino, aparentando 12 anos, cabelo pintado de loiro (uma pura expressão de influência do pagode, do funk, do rap….não sei), um retrato inusitado. Ele pediu moedas. Ofereci-lhe um pedaço do picolé. Aceitou e deixei que devorasse o finalzinho, a melhor parte!

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– Como é seu nome?
– Eucles!
– Diferente…mas soa bem.
Ele riu, como quem estivesse ingenuamente debochando, mas sem maldade.
– Sabe nadar, Eucles?
– Sei. Vou até o outro lado e volto.
O garoto se referia à ilha que fica em frente ao cais onde pegamos a embarcação e onde fica o restaurante.
– Como é o nome desta ilha, Eucles? Ele levanta o ombro e faz um bico com os lábios, uma resposta corporal, e, na mais lívida singeleza, fala: – não sei, não. É o outro lado. Eu só conheço esse nome.

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Aquela resposta tão simples me fez pensar em tantas coisas que vivenciamos no nosso dia a dia, as quais olhamos, mas não as vemos. Ou até mesmo não as queremos enxergar.

Quantos outros lados existem para Eucles? Pés no chão, roupa surrada, linguagem tangencial, olhar distante. Quantos lados existem e são desconhecidos para aquele menino? São os lados da desigualdade social, da (falta de) educação que deveria privilegiar os que não são privilegiados, da comida na mesa sem precisar pedir moedas, da segurança diária que deixa a todos inseguros…

O olhar de Eucles, num simples piscar, disse mais coisas que uma biblioteca.

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Segundo o site www.dicionariodenomesproprios.com.br, Eucles significa glorioso e indica uma pessoa de caráter inabalável, que nunca faz concessões. Moralista e perfeccionista, não tem jogo de cintura, e isso lhe causa inúmeros obstáculos. Mas ele prefere pequenos êxitos com a consciência tranquila a grandes lucros financeiros dos quais poderia se envergonhar.

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Hoje estreio como colunista aqui no Só Sergipe, um site que procura fazer um Jornalismo de caráter independente, sério e inovador. Junte-se a nós. Espero que você leia os textos aqui publicados toda quarta-feira e interaja conosco. Sua participação é importante na busca de reflexões diárias sobre tudo que nos cerca.

Eu sou André Brito, Professor e Jornalista.

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