Dia desses eu estava dobrando a esquina e encontrei, esgueirando-se de forma sorrateira, o mosquito Aedes Aegypti, o inimigo público número…hummmm…peraí… Está entre os 100 primeiros inimigos públicos (com tanto corrupto em tudo que é canto, fica difícil falar quem é o nº 1). Seguindo a linha… encontrei com o famigerado sanguessuga, monstro inescrupuloso transmissor de dores nas articulações e corpo inteiro, de microcefalia e de desespero populacional inveterado.

Rapidamente, puxei o veneno (temos que andar prevenido!), o repelente e a raquete elétrica.

– Vai morrer, carniça!
– Espere! Não me mate! Eu tenho filhos… e muitos!
– Diga suas últimas palavras!
– Pode ser em entrevista?
– Hã?

– Eu sei que você é jornalista. Então me deixe passar minha versão da história.

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Entrevista exclusiva com o Mosquito da Dengue.

O danado é malandro mesmo. Sabe que tem direito de defesa pública. E pensando bem, estava diante de um bandido que jamais falou em público. Se Gugu (em uma ânsia louca por audiência e freak show) entrevistou Susane Von %$#@ e outros seres (des)humanos, por que eu não poderia entrevistá-lo? Rapidamente acionei o aplicativo de gravação de voz do smartphone (fiquei com medo apenas de ser assaltado. Afinal, na rua, ninguém deve dar vacilo, senão ‘morreu Maria Preá) e comecei a entrevista:

Eu – Aedes, por que você entrou no mundo do crime?

Mosquito – Cara, é da minha natureza. Mas, se você reparar bem, eu pareço com muita gente que está por aí. Veja: sou sanguessuga. Quantos políticos não são? Transmito doenças. Quantas pessoas não fazem isso também, e de forma consciente? Dou umas picadas. E quem não dá? Se ligou?

Eu – E Por que você decidiu aumentar seu poder de fogo, transmitindo três doenças, uma pior que a outra?

Mosquito – Isso é complexo de explicar. Mas vou resumir. Primeiro: é uma ação de Marketing. No mundo animal, quem tem força comanda. No meio dos humanos também é assim. Traficante que se preza ostenta armas. Político vive se gabando que tem influência e tudo mais. Então eu sigo a vibe. Segundo: temos que ser darwinistas. Quem não se adapta não sobrevive. Ou seja, preciso ser multifuncional para acabar com a concorrência. Então eu carrego vários problemas, fico famoso, respeitado e viro o ‘dono do morro’.

Eu – Mas muita gente está sofrendo. Você não sente remorso por causa disso?

Mosquito – Cara, você sabe porque eu virei essa celebridade toda? Por causa de vocês humanos. Quem mandou vocês vacilarem? Bicho, tem lugar em tudo que é canto pra eu depositar meus ovos. P… eu olho prum lado, tem copos descartáveis, garrafas pet, pneus. Olho pro outro, vejo cacos de plantas, vasinhos chiques, calhas sujas, ferro velho… Um bando de gente displicente preocupada com a vida alheia e esquece que eu estou na área. A culpa é minha? De jeito nenhum. Vocês que vacilam. Aí criam campanhas caras em tudo que é mídia, dinheiro pra tudo que é lado, forças armadas nas ruas…kkkkkkkk (momento whatsapp)… pra quê? Pro carinha jogar o lixo no quintal e permitir que eu coloque meus ovos? Eu dou é risada!!!

Eu – E por que você não vira um mosquito normal, sugando seu sanguezinho na boa, sem fazer mal a ninguém?

Mosquito – Aí ninguém vai me respeitar. Malandro que se preza adquire respeito. Me deixaram crescer, vacilaram, agora tem que aguentar o Aedinho aqui. E tem mais: vocês brasileiros não têm que reclamar de nada não. Tem doença bem pior circulando e vocês decidiram pegar no meu pé. Por que neguin fura fila, cobra propina, se corrompe, compra voto, compra certificados, mente pra todo mundo, corta o dedo, fura o olho, faz delação premiada e ninguém fala nada? Só o mosquito aqui é quem paga o pato, é?

O desgraçado do mosquito colocou violinos no meu ouvido e minhocas na minha cabeça. Fiquei me sentindo lixo. Prontamente me recuperei e mantive a postura. Enraivecido (mesmo tendo milhões de perguntas), matei o mosquito com o veneno (só pra vê-lo agonizar). Depois dei uma raquetada na minha cabeça, pra ver se aprendo a deixar de ser besta.