Dia desses eu vi um anúncio no jornal onde se disponibilizavam aulas de francês. Bateu um saudosismo imensurável (daqueles que se remetem à Seleção de 82, uma fantástica fábrica de orgulho por um escrete futebolístico nacional, quando sabíamos que o Brasil estava bem representado), lembrei da minha professora de Língua Francesa: Luíza… ah, Luíza… Não pensem que estou pensando sacanagem… não é aquela velha história da paixão ingênua e quase literária do menininho pela professorinha… é saudade das aulas dela, é saudade dela, é saudade da sua representação magistral… é saudade da época em que professor sabia seu lugar e aplicava sua entrega.
Aprendi bem o funcionamento das paisagens oxítonas da língua mais charmosa que nasceu da mãe latina. Apenas dois anos de Francês, na escola regular, foram de grande valia. Pude ler alguns livros na própria prosódia de Victor Hugo, de Dumas, de Baudelaire.
Tive a honra de ser aluno de Luíza na 5ª e 6ª séries (dando um F5: hoje, 6º e 7º ano)… Aquela morena robusta, de temperamento forte, quase militar por essência de disciplina, era uma dedicação peculiar da época, assim como tantos outros… Mas Luíza chamava a atenção pela competência e pelo Sturm und Drang (o movimento de Herder, Goethe, Schiller, Klinger) com que vestia a sua couraça de mestra… Ela era tempestade e ímpeto para o ensino… Ficava possessa quando não fazíamos o biquinho para a pronúncia perfeita…
– Palavrão todo mundo aprende fácil, né? Então quero todos pronunciando corretamente!
Nas aulas à noite (ali na Escola 17 de Março, no Santo Antônio), caso faltasse energia, ninguém saía da sala. Luíza levava velas. Bastava acendê-las e estava tudo certo.
– Tout est calme!
– Oui, Madame!
– Je dois bougies!
Viam-se as velas. A luz delas, mesmo na penumbra que se formava, iluminavam muito além da sala. Clareavam a mente daqueles meninos e meninas que precisavam de luz disciplinar, de luz orientativa, de luz intelectual… A Luz de Luíza. Isso faz uma falta danada… mais do que a luz elétrica…
E as velas de Luíza, onde estão?
O Francês saiu do currículo… nunca mais vi Luíza… meus colegas da época galgaram caminhos virtuosos e acertados… Hoje, muitos mestres, doutores… A Escola 17 de Março tinha vocação para o preparo (um abraço para Margot e Josefina, inspirações para o enlace com a Língua Portuguesa!). Não sei quantas instituições continuam com a mesma vocação… não sei quantas pessoas continuam com a mesma vocação de Luíza… Responder-se-á quando a greve acabar.
Hodiernamente, muito se questiona sobre o papel exercido pelos profissionais do ensino …
– Qual papel? Ofício, A4, crepom.
Será que faltam velas?
Palmas para Luíza e André.