Dia desses eu filosofava socraticamente comigo mesmo sobre os vários paradoxos incutidos na nossa rotina enquanto seres sociológicos. Por exemplo, a tecnologia: aproxima os distantes e separa os próximos. Não é difícil encontrar pessoas sentadas numa mesa de bar, ladeadas nas cadeiras postadas, todavia voltadas às conversas no ‘zap’ ou no ‘Face’. A cena merece um quadro muito interessante de Andy Warhol, eternizando de forma pop essa nossa realidade grotesca.
Mas, na minha mísera anywhere opinião, talvez o maior dos paradoxos (ou pelo menos o que eu considero mais aviltantemente acentuado) é a superficialização do conhecimento por conta da quantidade de informações que uma pessoa recebe por segundos, minutos, horas, dia.
Eu explico: a gama informativa que nos chega por via tecnológica ganha status de uma superficialidade tão instantânea quanto leite em pó. Ela se dilui nas águas da velocidade da tela que rola. Como diria João Cabral de Melo Neto: “- Compreende?”.
Quantos terabytes de informações que geram conteúdo superficial nós temos condições de armazenar? Ou ainda: quantas dessas informações poderiam se transformar em conhecimento, em expertise?
[box type=”shadow” align=”” class=”” width=””]
Você se imagina pelo menos um ou dois dias sem o seu aparelho celular ou sem acesso à internet? Se não conseguir, parabéns, você ganhou um ‘estágio’ de microdepressão! Segundo uma pesquisa realizada pela University of Gothenburg, na Suécia, foi identificada uma relação entre o uso intenso da internet e telefone celular com problemas de saúde (estresse, depressão e dificuldade para dormir). O levantamento durou um ano e foi realizado com 4.100 pessoas naquele país, com idade entre 20 e 24 anos (Fonte: tecnologia.uol.com.br).
[/box]
Parece que todo mundo esta à mercê das redes sociais. Você encontra todas as informações sobre uma pessoa com apenas alguns poucos cliques. Pra que serve mais detetive particular?
Tem mais: nunca se viu tanto vídeo caseiro pornográfico (a indústria profissional deve estar numa crise sem pé, sem dentes) estrelado por jovens que ‘deram uma prova de amor’ e depois querem se matar ou alegam que satanás foi o culpado (é a velha transferência de responsabilidades que vem desde Adão e Eva).
[box type=”error” align=”” class=”” width=””]
Aí eu ‘te’ pergunto, Percival: você conhece o Bode Gaiato, filósofo nordestino, mestre da sabedoria instantânea, parente (muitooooo) distante do pensamento aristotélico e (muitoooo) próximo da pegadinha fuleirosófica do Mução?
– Pare aí, é muita informação pra minha cabeça!
– Qual informação é muita?
– A que passou!
– Qual? Tem muitas…
– Role a tela.
– Foi em qual grupo?
[/box]