Por Emerson Sousa (*)
No último dia 4, o Sr. Jair Bolsonaro afirmou em sua conta numa rede social que o “Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB que a média de países desenvolvidos,” ressaltando que, mesmo assim, o desempenho do país em exames internacionais de proficiência educativa é pífio. Porém, até onde esse argumento é correto?
Em verdade, o Sr. Bolsonaro promoveu uma manipulação estatística. Ele se valeu de números verdadeiros, os tratou de forma enviesada e chegou às conclusões equivocadas. Até o momento, está em suspensa a hipótese que isso tenha sido feito de modo proposital.
A sua falha reside no uso do indicador: a proporção percentual do gasto em educação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Isso porque, essa abordagem desconsidera o impacto populacional num quadro onde a maioria dos países desenvolvidos, geralmente, são detentores de populações inferiores à brasileira e contam com altos níveis de geração de riqueza.
[box type=”info” align=”aligncenter” class=”” width=””]
Afinal, o Brasil possuía só na Educação Infantil, no ano de 2015, 7,97 milhões de crianças matriculadas, um contingente maior do que a população de 13 dos 36 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo que reúne as economias mais desenvolvidas do planeta, e que deve ter sido o parâmetro comparativo do referido mandatário.
Diante de tais discrepâncias, o mais adequado seria comparar o valor per capita destinado à educação, de modo que seria possível estabelecer o volume de recursos que cada país aloca para cada estudante para o desenvolvimento intelectual das gerações futuras.
De acordo com os números divulgados pela OCDE, em seu banco de dados estatísticos, na data base de 2015, seus países membros dispenderam US$ 10,348.00 para educar cada um dos seus alunos nas instituições públicas, do ensino infantil até o superior. Algo bem diverso dos US$ 4,450.50 aplicados pelo setor público brasileiro.
[/box]
Dentre as nações associadas à OCDE que prestaram informações sobre os seus gastos com educação, somente a Turquia (US$ 4,100.70) e o México (US$ 3,534.50) ficam abaixo do Brasil, que é superado até pela Grécia (US$ 5,356.00) e pelo Chile (US$ 5,454.20).
As duas maiores marcas de alocação de recursos pertencem ao Grão-Ducado de Luxemburgo (US$ 23,770.70) e ao Reino da Noruega (US$ 15,795.50). Curiosamente, na Áustria (US$ 15,412.20), nos EUA (US$ 15,201.50) e no Reino Unido (US$ 12,215.20), três países considerados como baluartes do pensamento neoliberal, o Estado gasta valores acima da média do grupo de países da OCDE.
Os números mostram que o Brasil está anos-luz do estágio dos países desenvolvidos, ficando no mesmo patamar de outras nações em desenvolvimento. Mas, também, deixam claro que a saída para o desenvolvimento está na ampliação e não na retenção dos investimentos em Educação.
(*) Economista