Por Jozailto Lima

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Esta visão não é de nenhum jurista ou político. De nenhum magistrado ou procurador de justiça. Nem de algum economista. Esta é uma opinião de Dom João José Costa, 58 anos, o novo arcebispo arquidiocesano de Aracaju, que desde o final de janeiro sucede a Dom José Palmeira Lessa no comando da Arquidiocese, cuja província eclesiástica abarca Aracaju, Estância e Propriá.

Figura simples, nascido em Lagarto em junho de 1958, ordenado sacerdote em dezembro de 1992, tornado bispo em Iguatu, no Ceará, membro da Ordem do Carmo e coordenador nacional da Cáritas Brasileira, Dom João José Costa tem uma relação visceralmente ligada aos exemplos de Jesus Cristo, o que lhe faz um signatário da defasa de melhores condições de inserção social dos pobres na vida.

Neste aspecto, o olhar de Dom José João Costa é de esquerda – embora ela fuja do rótulo. É de reação e de não conformidade como status quo, com o establishment. É o de quem não tolera a política da exclusão, seja do homem, seja do meio ambiente, do mundo enquanto “Morada Comum”, naquele sentido que o Papa Francisco vem pregando. “Como cristão, como um seguidor de Jesus, como um homem de Deus, a gente tem de olhar a vida nas suas diversas expressões”, diz ele.

Por isso os exemplos de corrupção trazidos à tona pela Operação Lava Jato tanto incomodem a Dom João José Costa. “É uma coisa inimaginável. Eu nunca imaginava que a corrupção no Brasil tivesse as proporções a que chegou. A gente fica espantado e escandalizado com tanto absurdo. Mas o pior de tudo isso é que quem paga o preço são os mais pobres”, diz.

Com o lema “Servo por amor”, Dom João José diz que quer fazer um trabalho digno no comando da Arquidiocese de Aracaju. E, logo, defende mais comprometimento da Igreja. “Precisamos de uma Igreja participativa, na qual as pessoas tomem a participação com mais consciência em todos os aspectos”, prega, ele citando ao logo da entrevista sete vezes a palavra consciência e duas vezes, a consciente.

“Diria uma Igreja também cada vez mais comprometida com a transformação do mundo e da sociedade. Aí entra a política, a ideologia. Abraçando o mundo nas suas diversas expressões, porque isso é a nossa missão enquanto cristão. Quer seja ao pobre abandonado na rua, quer seja qualquer outra realidade, a Igreja deve se chegar. Porque Cristo chega a todas essas realidades. Então o caminho da Igreja é o mesmo caminho de Cristo”, diz ele. Leia a seguir a entrevista exclusiva concedida pelo religioso ao JLPolítica.

JLPolítica – O senhor se sente à vontade nesta missão de suceder a Dom José Palmeira Lessa?
Dom João José Costa – Olhe, a minha consciência como pastor é a de que estou sempre a serviço de Deus. Quando fui escolhido para ser bispo no primeiro momento na Diocese de Iguatu, no Ceará, já o fui guiado por esta consciência a partir do meu primeiro sim, como um religioso carmelita, de que Deus me escolheu, me chamou e me enviou para uma missão. A partir daquele primeiro sim, a minha preocupação foi a de nunca dizer não ao que Deus está me pedindo. E diante disso, a nomeação para ser bispo coadjutor e agora bispo arquidiocesano pra mim é uma grande missão e responsabilidade. Claro que me sinto pequeno diante de tamanho desafio, mas trago como princípio de que aquele que me chamou também me capacitou para que eu possa corresponder aos apelos e atender à grande missão que ele está me confiando. Isso é o que me norteia em minha vida de bispo escolhido por Deus para uma missão diante do povo Dele.

JLPolítica – O senhor vê paralelos de igualdades ou de diferenças entre a sua ação futura e a do seu antecessor? Há convergências e diferenças no que vai ser feito?
DJJC – Eu parto da consciência de que dentro da Igreja, na Arquidiocese, por exemplo, ou em Paróquias, a gente nunca está começando. É como se fosse um grande trem que vem: fica-se nele por um momento, para numa estação e o trem continua. Eu estou dentro de um enorme legado de grandes homens de Deus que antecederam a Dom José Palmeiras Lessa, como Dom José Vicente Távora, Dom Luciano Cabral Duarte e tantos outros. Creio que Dom Lessa, por exemplo, realizou uma grande obra. Eu até me sinto pequeno para sucedê-lo diante de um trabalho tão honroso realizado por todos eles. Mas não podemos perder de vista que a gente recebe esse legado e também se sente desafiado para dar a sua contribuição. Imprimir a sua maneira de governar e de pensar a Igreja.

JLPolítica – Qual é o seu conceito do papado de Francisco?
DJJC – Sou entusiasmadíssimo, encantado, com o papa Francisco. Eu diria que ele é um homem de Deus, um grande profeta dos nossos dias, que fala ao mundo não somente com palavras, mas principalmente com as próprias atitudes. O Papa Francisco tem sido hoje um grito para a Igreja no mundo todo, convidando-nos e nos convocando a um novo papel da Igreja mundial.

“Minha consciência como pastor
é a de que estou sempre a serviço
de Deus. A nomeação para ser bispo
coadjutor e agora bispo arquidiocesano
pra mim é uma grande missão
e responsabilidade”

JLPolítica – A Igreja está compreendendo-o ou ele está sendo solapado?
DJJC – Pode existir aqui ou acolá alguém pontual que não o entenda, ou que até resista. Mas diria que no geral ele é de uma grande aceitação, até fora da nossa Igreja, junto a pessoas de outras denominações religiosas que reconhecem, exaltam, acolhem e aprovam as atitudes e a missão do Papa Francisco. Veja a sensibilidade dele naquela ida a Síria, junto àquelas famílias; veja ele andando pelas ruas de Roma para se encontrar com os pobres. É um homem de uma grande sensibilidade. Claro que não é nada novo o que o Papa Francisco faz. Jesus Cristo já fez muito bem e já vivenciou muito isso. Ele apenas atualiza com palavras e gestos as ações de Jesus. E isso nos interpela para que façamos também este caminho.

JLPolítica – Como é que o senhor vê o lema dele, da Casa Comum, para referir-se ao mundo?
DJJC – Ele pensa o planeta terra como a casa de todos. Acha que todos devemos preservá-lo e onde todos devemos viver bem. A casa no sentido de preservar o ambiente, mas a casa também no sentido de as pessoas terem vida. Um lugar bom para se viver, onde todas as pessoas tenham seu espaço e sua dignidade. Num mundo desigual e injusto como o nosso, às vezes a gente entende que alguns têm a impressão de que Deus o fez apenas para poucos. Para se esbanjar no luxo e na concentração dos bens materiais para a própria sustentabilidade e vida, enquanto outros vão vivendo absolutamente na miséria extrema.

JLPolítica – E o mundo foi feito para o quê e para quem?
DJJC – Para todos. Deus criou este mundo para todos, e quem tem mais é chamado a repartir – tem uma canção em que se canta assim. E eu creio que nós não podemos abrir mão desses princípios. O lema principal de Jesus, em João, 10.10, é: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em plenitude”. Todos, todos. Não apenas um pequeno grupo que concentra tudo. Porque os bens da humanidade são para todos.

“Sou entusiasmadíssimo, encantado,
com o papa Francisco. Eu diria que ele
é um homem de Deus, um grande
profeta dos nossos dias, que fala ao
mundo não somente com palavras,
mas principalmente com
as próprias atitudes”

JLPolítica – Em 517 anos de história, o Brasil se confirmou um país muito “judiado” do ponto de vista ambiental. O senhor acha que a sociedade está prestando atenção na Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano, que pede pelo meio ambiente? 
DJJC – Algumas pessoas, sim. Mas há, por outro lado, pessoas que resistem e até criticam a Igreja por estar tratando de um assunto como esse. Dizem: “mas por que a Igreja não se preocupa com o evangelho, com a Bíblia e com a espiritualidade?”. Para mim, quem pensa desse jeito não entendeu ainda a mensagem de Deus quando cria o mundo, lá no Gênesis, e diz: “e ele viu que tudo era bom”. Isso para mim é o grande refrão. Deus confiou ao homem essa grande responsabilidade. Então: cuidar dessa obra de Deus é um ato também espiritual. E louvável. Quando eu destruo, estou indo contra o próprio Deus, já que o mundo é uma criação de Deus e podemos até chegar a ele através da obra que ele criou. Ou seja, cuidar dessa Casa Comum de todos, o planeta, é a gente estar também desenvolvendo a espiritualidade e o compromisso com Deus para que a vida plena para todos possa existir.

JLPolítica – Pela sua lógica, o homem contemporâneo estaria negando Gênesis, ao negar o mundo bom?
DJJC – Sim. Mas o que está por trás disso? O lucro do capitalismo desenfreado e selvagem, que não pensa no desenvolvimento com sustentabilidade. Devora e destrói tudo, porque o que importa é o lucro. Cada vez mais matam nossas nascentes. A Mata Atlântica já está tão destruída. Os biomas todos. Isso porque tem de produzir e produzir, inclusive, para exportar. Claro que a gente não é contra o desenvolvimento e nem o crescimento econômico, mas com sustentabilidade. Respeitando a vida.

JLPolítica – Dom João, como é que está a vocação sacerdotal sergipana. Há 66 jovens estudando no Seminário Maior. Isso é apenas ou o suficiente?
DJJC – Aqui na Arquidiocese de Aracaju nós temos um número muito bom de vocações e também de sacerdotes. Até comparado com outras Dioceses do Brasil, sobretudo a região amazônica, onde o número é muito reduzido, acho que nós somos agraciados. Veja esse episódio: Dom Luciano Cabral Duarte, no início do episcopado dele aqui, constatou pouquíssimo número de vocações. Certa vez ele estava muito triste em decorrência disso e a professora Conceição Luduvice, do Colégio São Salvador, percebeu a sua tristeza e perguntou o motivo. Ele lhe disse: “Conceição, é que estou percebendo que daqui a pouco não vai ter nenhum jovem seminarista para ser ordenado sacerdote”. Ela lhe disse, então: “Dom Luciano, mas o que diz o Evangelho? Se as vocações estão poucas, tem de pedir ao Senhor da messe pessoas para a messe, porque a messe é grande e os operários são poucos. Aí, daqui a pouco Dom Luciano lhe pediu uma caneta e um papel e naquele exato momento redigiu uma Oração Pelas Vocações e Pelos Sacerdotes, que se reza até hoje: “Senhor da messe, pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos esse convite…”. É uma oração muito bonita e a partir dali nunca mais nos faltou vocação. A oração é sem dúvida o caminho para que o senhor desperte no coração de muita gente esse desejo de seguir a Deus. De modo que hoje eu acho os cerca de 150 padres que nós dispomos é o suficiente. Mas é claro que a gente precisa continuar renovando, porque alguns vão envelhecendo, morrendo.

“Deus quando cria o mundo,
lá no Gênesis, diz: “e ele viu
que tudo era bom”. Isso para
mim é o grande refrão. Deus
confiou ao homem essa grande
responsabilidade. Então:
cuidar dessa obra de Deus
é um ato também espiritual”

JLPolítica – Sejamos sensatos: quais são os maiores pecados da Igreja Católica?
DJJC – (Risos) Nós somos realmente uma Igreja santa e pecadora. Por isso que a gente tem o sacramento da reconciliação da confissão, porque temos os nossos limites em vários aspectos. Eu acho que precisamos cada vez mais de uma Igreja consciente da missão do seguimento ao nosso Senhor Jesus Cristo. Precisamos de uma Igreja participativa, na qual as pessoas tomem a participação com mais consciência em todos os aspectos. Além disso, diria uma Igreja também cada vez mais comprometida com a transformação do mundo e da sociedade. Aí entra a política, a ideologia. Abraçando o mundo nas suas diversas expressões, porque isso é a nossa missão enquanto cristão. Quer seja ao pobre abandonado na rua, quer seja qualquer outra realidade, a Igreja deve se chegar. Porque Cristo chega a todas essas realidades. Então o caminho da Igreja é o mesmo caminho de Cristo.

JLPolítica – Lhe tira o sono o avanço dos protestantes e evangélicos?
DJJC –Não, porque não os olho como concorrentes. Cada um é livre, e Cristo deixa muito claro a sua mensagem, quando se refere ao discipulado com a convicção de que “quem quiser me seguir, tome sua cruz e me siga”. Por isso, acho que a gente tem que ter uma convivência fraterna. Se alguns entendem de seguir a Cristo de uma forma diferente, fica na consciência de cada um. A gente tem a nossa missão de chegar a todos, de fortalecer cada vez mais a fé e a consciência daqueles que aderiram a Cristo como católicos. Nossa missão é a de revelar este Cristo misericordioso, mas respeitando as diversas expressões.

JLPolítica – O senhor não acha que a CNBB está um pouco morna, do ponto de vista do enfrentamento das causas sociais?
DJJC – Eu acho que a CNBB tem se manifestado até com uma certa frequência, como no caso do aborto recentemente, em tantas notas sobre este momento de “reformas” do Brasil, em suas várias PECs apresentadas. Mas eu pressinto que os gritos que têm surgido, quer seja da sociedade, quer seja das instituições – Igreja, OAB, – não tem tido muito impacto diante do nosso Congresso Nacional. Infelizmente, parece que tudo vai muito bem, sendo acolhido, sendo aprovado, como se tivesse uma lógica e uma força externa que vão impondo como se existisse um Congresso um tanto refém e de costas para a sociedade. Para votar precisa pensar primeiramente no povo.

“Eu diria, repetindo Dom Manuel
Edmilson, bispo lá do Ceará: quem
vota em político corrupto está
votando na morte. Imagine só esse
escândalo que a gente está assistindo
no país. Quantas pessoas não
morrem sem assistência à saúde?”

JLPolítica – Se fosse possível rotular, Dom João, o senhor se sentiria de centro, de direta ou de esquerda na visão da práxis e da fé dentro da Igreja?
DJJC – Eu prefiro não rotular desta maneira. Eu compreendo assim: como cristão, como um seguidor de Jesus, como um homem de Deus, a gente tem de olhar a vida nas suas diversas expressões, levando em conta a doutrina, a espiritualidade e a intimidade com Deus. Mas tudo isso nos leva a um compromisso social com o irmão mais pobre, com os abandonados. Porque quando a gente fala de esquerda está se falando em tese de alguém que defende os abandonados. E eu quero dizer que, como cristão, não podemos dizer que não defendemos isso. Porque quem vê Jesus Cristo na Eucaristia, na Sagrada Escritura, deve enxergá-lo também no irmão. E num irmão principalmente igual àquele que está lá em Mateus, 25: “Eu estava com fome, me destes de comer, eu estava com sede, me destes de beber. Preso e doente, e fostes me visitar”. Então, esse Jesus que a gente vê na Eucaristia, na palavra e no meio de nós, devemos vê-lo também na pessoa de tantos irmãos sofredores. Por isso, chegar aos pobres, defender a dignidade de todos, é uma missão inerente a nós cristãos. E para mim isso não é uma questão de ser de direita ou de esquerda. É de se pensar que se eu não faço dessa forma eu estou me contradizendo como cristão.

JLPolítica – Ser coordenador nacional da Cáritas Brasileira faz do senhor um religioso mais perto do social?
DJJC – Creio que me fez, até porque quando me escolheram para a Cáritas já viram na minha pessoa, quem sabe, esta sensibilidade diante dos que sofrem e estão aí abandonados na sociedade. E olhe que são tantos irmãos. A Cáritas, sem dúvida, é o coração de Cristo na igreja para servir e socorrer os mais abandonados. O senhor citava há pouco o Padre José Enaldo Menezes, e a sua obra bonita, como o Banque dos Pobres. Havia ali um sinal que tocava o coração da gente – e eu tive a oportunidade de em dezembro ir lá ver uma ação com ceias, cestas de alimentos e brinquedos para crianças feita pelos seus sucessores e me deparei com tanta gente abandonada. Vi ali a expressão dos crucificados, no que me impressionou muito. Fiquei feliz em ver que a obra tão digna que o padre Enaldo realizou os que estavam com ele estão dando continuidade. Então, olhando para isso vejo a Cáritas como esse grande organismo da Igreja Católica que procura concretizar a caridade de Cristo. Que procura ver Cristo na pessoa dos sofredores – e olhe que são tantos em nossos dias.

JLPolítica – Daí me ocorre o seguinte questionamento: diante de tantos excluídos, quase 50 milhões de pessoas em carência crônica, necessidade de um bolsa família, o senhor não acha que o papel social da Igreja é um pouco escasso?
DJ – Sim, eu creio que nós, como cristãos, deveríamos atuar muito mais. Inclusive, com os cristãos comprometidos entrando no mundo da política. Talvez por não vê o bom testemunho de alguns políticos, alguns desses cristãos se recusam às práticas políticas formais. Porque o que vemos é um absurdo, uma vergonha para o país. É complicado dizer: eu não quero entrar por esse caminho da política, porque é muito sujo! Por causa dessa visão, tantos que não merecem estão ocupando cargos relevantes na política brasileira e causando um tremendo mal à sociedade e às pessoas.

JLPolítica – O senhor não criminalizaria a política, mas apenas determinados políticos?
DJJC – Eu acho que a política em si, é algo muito positivo. Lembro das palavras do Papa Paulo VI, quando ele dizia: “A política é uma das melhores formas de você fazer a caridade”. Pensemos aqui concretamente: o senhor pode, com sua economia pessoal, comprar uma cesta básica para um pobre. Mas escolhendo bons representantes, políticos comprometidos com a justiça social e com a defesa dos pobres, vai criar oportunidades de correção das desigualdades sociais e, segundo, vai dar oportunidade para que os miseráveis possam entrar num processo de inclusão. Então, com este olhar, a política é um caminho muito promissor. O Brasil é um país muito rico, só necessita da boa política.

JLPolítica – Há solução fora da política, bispo?
DJJC – Não. Eu acho que a solução deve vir de um conjunto, daqueles que estão à frente da política e a sociedade. O caminho da política é muito essencial. Política eu faço à medida que escolho, e todos nós escolhemos. E faço a política à medida em que sou escolhido para governar. Ela entra em várias dimensões. Mas é muito importante o foco daqueles que escolhem. Eles devem fazê-lo bem. Com o coração, mas também com a consciência. Devemos acompanhar melhor aqueles que foram escolhidos. O mal do Brasil é que escolhemos representantes e depois os deixamos abandonados, fazendo grandes besteiras e absurdos que muitos aprontam. O acompanhamento e o monitoramento são essenciais. Nesse sentido, creio que a gente tem aqui na Igreja uma iniciativa muito louvável, que é o Conal. Criamos o GAL – Grupo de Acompanhamento ao Legislativo – no Município e estamos pleiteando também no âmbito da Alese. Porque o acompanhamento é fundamental para que nós, povo que escolhemos, possamos também regular as decisões que eles tomam em suas diversas instâncias.

JLPolítica – O senhor acha que dificuldade que temos de acompanhar os eleitos consente, estimula e permite essa coisa feia que está sendo apurada hoje pela chamada Laja Jato?
DJJC – Sem dúvida. Passa por aí. Mas passa, por exemplo, pelo momento eleitoral: um voto não se vende. Não se troca. O voto é uma atitude cidadã muito consciente. Eu diria mais, repetindo Dom Manuel Edmilson, um bispo lá do Ceará: quem vota em político corrupto está votando na morte. É uma verdade: imagine só esse escândalo que a gente está assistindo no país. Quantas pessoas não morrem sem assistência à saúde?

JLPolítica – Qual é o seu sentimento diante das denúncias da Operação Lava Jato?
DJJC – Os resultados desta operação revelam um atentado contra o povo brasileiro. É uma coisa inimaginável. Eu nunca imaginava que a corrupção no Brasil tivesse as proporções a que chegou. A gente fica espantado e escandalizado com tanto absurdo. Mas o pior de tudo isso é que quem paga o preço são os mais pobres.

JLPolítica – Qual é a consequência da corrupção? Qual é o poder de degradação dela, e atinge a quem?
DJJC – É a pior possível, e atinge os pobres. As reformas que apresentam e aprovam aí só atingem os mais fracos. Aqueles que pagam um preço já tão alto pela sobrevivência ainda têm que pagar mais e mais diante de uma corrupção tremenda. E entendamos a corrupção como algo abrangente que vai desde aquele que vende seu voto àquele que recebe propina das grandes empresas, e aí vai se formando um grande vendaval que vai destruindo direitos adquiridos, mesmo que direitos ainda muito limitados e não levados à prática. Isso nos deixa muito, muito, indignados.

JLPolítica – O senhor daria força ou pisaria no freio do juiz Sérgio Moro, numa simbologia da justiça como um todo?
DJJC – Eu não quero me fixar na pessoa de A, B ou C. Eu quero dizer que o judiciário brasileiro deveria ser muito mais corajoso. Avançar mais para fazer justiça diante de tamanho desmando em que vive a sociedade brasileira. Sem privilegiar ninguém e fazendo com que todos aqueles que sejam culpados paguem principalmente com a restituição do que foi roubado. Não basta uma punição de ficar preso. Deve-se devolver tudo aquilo que foi roubado ao povo.

JLPolítica – O senhor está defendendo que os patrimonialistas do poder público devem ser expropriados.
DJJC – Sim, e que tudo deve voltar para atender àqueles que perderam. Quem pagou este prejuízo e esse preço todo não foi a sociedade brasileira? É dinheiro do povo. Acredito que a gente deveria cobrar, inclusive, do Judiciário para que, com muita firmeza, possa atuar neste cenário muito louco. Claro que a história da corrupção no país é muito antiga. Mas isso tudo nos desperta a esperança de que a justiça vai ser feita e que vai se moralizar esta nação e que nós vamos ter um país diferente a partir destas realidades absurdas, profundas e gritantes.

JLPolítica – Qual a tradução de “Servo por amor”, lema do senhor na Arquidiocese?
DJJC – Cada bispo deve ter um lema episcopal, e quando fui nomeado procurei saber o que é que poderia expressar a minha vida. Olhando pra lá e pra cá, abrindo a Bíblia e lendo, achei que o “Servo por amor” expressaria um pouco o que eu desejava ser como bispo. Pensei, por exemplo, no servo que está no profeta Isaías, quando ele fala no servo que escuta, que dirige uma palavra de conforto ao desanimado, que é resistente mesmo diante das dores e do peso da cruz. O escolhi, portanto, olhando, principalmente, para Jesus, quando ele diz que o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir da sua vida para a salvação de todos. Então se Jesus, o maior de todos, o Deus encarnado, assume para si este lema, eu disse a mim mesmo, embora humilde e pequeno: “eu quero apenas servir. Servir e mais nada”.