Antônio Cláudio Neves: ensinamentos do Eclesiástico mudando vidas

Por: Antônio Carlos Garcia

O livro Eclesiástico, escrito provavelmente no ano de 180 antes de Cristo, por Jesus Ben Sirac, serviu de inspiração para que o gerontólogo e geriatra Antônio Cláudio Neves motivasse seus pacientes a ter qualidade de vida. Ensinamentos como “por causa da gula muitos morrem; mas aquele que se modera prolonga a vida” são repetidos como uma espécie de mantra, não só nas consultas, mas também nas palestras que Antônio Cláudio faz em clubes sociais, igrejas e diversas entidades em Aracaju.  Por conta dessa atividade, foi convidado pelos editores do livro da Sociedade Médica de Escritores a escrever um artigo sobre essa experiência a ser publicado na próxima edição, cujo título é “Sobre as virtudes Eclesiásticas e a Longevidade”.

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“Os conceitos de Jesus Ben Sirac ajudam a você referendar, fundamentar, os conselhos para uma longevidade saudável. É algo que se torna moderno, atual e sempre será, haja vista que os homens vão precisar, por milênios, dos conselhos de Ben Sirac”, explica Antônio Cláudio. Frases como “por causa da gula muitos morrem; mas aquele que se modera prolonga a vida”, de Ben Sirac, diz o gerontólogo, levam os pacientes a refletirem e passarem a se alimentar de forma mais adequada.

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Recentemente, numa palestra sobre as qualidades do zinco no organismo, o médico serviu um chá de hibisco e brincou para uma atenta plateia de 60 a 90 anos que foi ao Instituto de Atenção à Longevidade (IAL) ouvi-lo: “tomem o chá que vocês não vão morrer”. Brincadeiras à parte, na palestra ele falou dos alimentos que contêm zinco, deu uma série de dicas importantes e ressaltou que, tanto as pessoas em tenra idade, quanto aquelas de extrema idade, há baixa imunidade que favorece o aparecimento de infecções nos mais jovens e cânceres nos idosos.

Além dos cuidados com a saúde física, a exemplo da moderação na alimentação, Antônio Cláudio se preocupa com a saúde mental dos pacientes e, lógico, para estimulá-los ele recorre ao escritor judaico: “não há maior felicidade do que a alegria do coração”.

E complementa: “no livro, nós temos os ensinamentos comportamentais mostrando que o ancião tem que ter bom caráter, ser uma referência para sociedade. E isso vai fazer com que o idoso se sinta bem, útil. Envelhecer se tornando uma referência, com bom caráter, uma boa conduta, favorece à longevidade saudável, pelo mérito do reconhecimento justo da sociedade da pessoa que envelhece dessa forma. E isso é tratado no Eclesiástico”.

Maria Vitória: resiliência paterna

Amizade – As palestras de Antônio Cláudio, suas analogias com os ensinamentos do Eclesiástico e a prática no consultório, há 11 anos já fazem parte da vida da professora aposentada Maria Vitória de Souza, 75. Todas as quartas-feiras ela e outros idosos se encontram na IAL para ouvir o médico e, quando necessário, fazem as consultas. Vitória não se queixa de nenhum problema de saúde, participa de diversas atividades – entre elas a da Igreja Católica que frequenta – e não tem tempo para lamúrias.

Ela diz que segue o exemplo do pai Artur Ferreira Teles, descendente dos negros do povoado Mussuca, no município de Laranjeiras, que morreu aos 107 anos. “Meu pai teve nove filhos. Se ele dissesse sim, era sim. O não, era não”, lembra. “Do meu pai trago a fé, a disponibilidade, o amor, a honestidade, a força de não se entregar à velhice”, assegura.  Ela conta que o pai, entre os 54 a 58 anos (ela não se recorda exatamente quando) teve um derrame (AVC, Acidente Vascular Cerebral) e ficou paralisado na cama, “não mexia um dedo”. Mas foi forte o suficiente para voltar a andar e trabalhar como feirante, quando morava em Aracaju. Maria Vitória tem essa resiliência e determinação paterna.

Tereza Neuma: de murmúrios e lamúrias”

Essa postura de Maria Vitória é um exemplo para  também aposentada Tereza Neuma Simões, 69 anos.  A amizade entre ambas começou há 10 anos, quando Tereza passou a frequentar o IAL. Assim como a amiga Vitória, ela diz que não gosta “de murmúrios e lamúrias”.  Atenta aos ensinamentos passados por Antônio Cláudio, ela diz que no IAL todos formam  uma grande família. Contou não foi feliz no casamento e filosofou:  “a felicidade, a gente não encontra nas pessoas, mas em nós mesmos”.

“Essas pacientes são um exemplo”, disse Antônio Cláudio referindo-se a Maria Vitória e Tereza Neuma que seguem corretamente as orientações médicas, são exemplos para a comunidade onde vivem.  As duas idosas integram os 10% da população de Sergipe acima dos 60 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população estimada em 2018 para o Estado é de 2.278.308 habitantes.

Enquanto Antônio Cláudio se desdobra em elogios a todas as suas pacientes do IAL, algumas delas frequentadoras assíduas das palestras às quartas-feiras, Maria Vitória e Tereza Neuma também não fazem por menos. “Seremos sempre pacientes dele”, garantem. Afinal, como diz Jesus Ben Sirac: “o médico recebe de Deus sua ciência. E do rei, seu sustento”.

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 Eclesiástico e Eclesiastes

Gravura de Jesus Ben Sirac

O Eclesiástico ou Sirácida, que inspira o médico Antônio Cláudio, é um dos livros deuterocanônicos da Bíblia, de composição atribuída a Jesus filho de Sirac, um sábio judeu que, segundo os historiadores, viajou pelo mundo.

Já Eclesiastes faz parte dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia cristã e judaica.

Deuterocanônico diz-se dos livros do Velho Testamento declarados canônicos pelo Concílio de Trento, os quais se encontram na versão grega (Septuaginta), mas não fazem parte do texto hebraico.

Durante 1500 anos, o Eclesiástico foi considerado sagrado e canônico pela Igreja Católica. Durante a Reforma Protestante, porém, houve um movimento de limitar o Antigo Testamento a somente os livros considerados canônicos pelos próprios judeus. Por isso, as bíblias protestantes não trazem o Eclesiástico – e nem Tobias, Judite, Sabedoria, Macabeus, etc.

Fonte: Wikipedia e Blog Alex Castro

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